O ProInfo

Abaixo segue um trecho da Dissertação de Mestrado em Educação da nossa Tutora Deniele BATISTA, que tem colaborado muito pra nosso desenvolvimento e cujo o Título é:

"Interdisciplinaridade: o discurso e a prática pedagógica em cursos de capacitação tecnológica docente"



Ao considerarmos as políticas públicas de educação no Brasil, é possível perceber um conjunto de ações tomadas no sentido de melhorar a qualidade do ensino oferecido no país. A qualidade do livro didático, a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a implementação da educação à distância, a criação do TV-Escola e a política para a criação de um modelo de informática na educação constituem algumas das ações efetivadas pelo Ministério da Educação na esperança de que tenham impacto positivo no sistema educacional.

Nesse quadro, o Programa Nacional de Informática na Educação – ProInfo, criado em 09 de abril de 1997, pela Portaria nº 522, representa uma das mais importantes iniciativas já tomadas para a promoção de mudanças pedagógicas capazes de resgatar a qualidade do ensino público. Tal Programa é um dos instrumentos com que o MEC conta para implementar o uso de tecnologia de ponta, distinguindo na capacitação de recursos humanos para o uso dessa nova ferramenta sua maior garantia de sucesso.

Todavia, convém mencionar outras iniciativas do governo, anteriores ao ProInfo, para se compreender melhor a dinâmica que envolve o processo de informatização das escolas públicas brasileiras, nas últimas décadas.

Propostas antecedentes

Segundo Valente e Almeida (1997), a História da Informática na Educação, no Brasil, teve início na década de 1970 com algumas experiências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Podemos dizer que sua consolidação ocorreu nos anos de 1980, quando conseguiu imprimir identidade própria com relativa maturidade. Contudo, nos dias de hoje, a disseminação do uso do computador nas escolas ainda está bem aquém do que se almejava, nos primórdios. Talvez esse atraso se justifique porque as bases que sustentam a informática educativa não foram apropriadas aos professores e, em conseqüência, ainda não se consolidaram em nosso sistema educacional.

A falta de vontade política dos dirigentes, a carência de recursos financeiros, de maior participação da comunidade científica e educacional no processo de concepção da proposta, bem como a preparação inadequada dos professores podem também ter contribuído para a não consolidação da informática educativa em solo brasileiro. No entanto, Valente e Almeida (1997) comentam que a questão não é tão simples assim e buscaram analisar os diversos aspectos que marcaram o percurso da informática na educação no Brasil, confrontando com o de outros dois países que já vinham desenvolvendo essa experiência: Estados Unidos e França.

Esses autores concluíram que, embora o processo de informática na educação no Brasil conte com significativas diferenças em termos de investimento financeiro e de avanços tecnológicos em relação aos outros dois países, economicamente mais abastados, do ponto de vista pedagógico nosso programa é audacioso em suas pretensões. Observam eles:

No nosso programa, o papel do computador é o de provocar mudanças pedagógicas profundas, ao invés de ‘automatizar o ensino’ ou promover a alfabetização em informática como nos Estados Unidos, ou desenvolver a capacidade lógica e preparar o aluno para trabalhar na empresa, como propõe o programa de informática na educação da França (VALENTE e ALMEIDA, 1997, p. 1).

Com todo o aparato tecnológico, as mudanças efetivadas no âmbito pedagógico eram quase inexistentes, ou seja, as incríveis mudanças de ordem tecnológica não correspondiam às transformações ocorridas no processo educacional. Os objetivos de ambos eram mais relacionados ao âmbito técnico do uso dos softwares, habilitando assim o aluno empregar a tecnologia da informática. Na França, no entanto, esse processo não deixou de se preocupar com a valorização da formação de professores.

O programa brasileiro apresenta peculiaridades, assinalando-se como principais diferenças políticas descentralizadas, políticas fundamentadas em pesquisas pautadas em experiências efetivas e a perspectiva pedagógica, em que o papel do computador consiste em provocar mudanças no processo educacional. Para visualizar melhor como vêm se desenvolvendo as propostas oficiais de inserção de computadores nas escolas brasileiras, será feita breve descrição dos principais programas já criados pelo governo federal.

No Brasil, o uso do computador na educação teve início com algumas experiências em universidades, no início da década de 1970. Entretanto, apenas no início dos anos de 1980 é que o movimento pela implantação do programa de informática na educação se inicia, com a realização do I e II Seminário Nacional de Informática na Educação, ambos promovidos pelo MEC, em 1981 e 1982, respectivamente. Estes seminários representaram o marco inicial das discussões sobre políticas públicas nessa área, no Brasil.

Com base nas recomendações feitas pelos grupos participantes[1] nesses seminários, a Comissão Especial de Informática na Educação (CE/IE) elaborou e aprovou, em 1983, o Projeto Educom (Educação com Computadores), cujo objetivo principal foi “estimular o desenvolvimento da pesquisa multidisciplinar voltada para a aplicação das tecnologias de informática no processo de ensino-aprendizagem” (OLIVEIRA, 1997, p. 34).

O projeto era operacionalizado nos centros piloto, instalados em universidades brasileiras, que ficavam responsáveis pelo desenvolvimento de pesquisas e disseminação do uso de computadores no processo educacional. As instituições escolhidas para sediar os centros de pesquisa foram: UFPE, UFRJ, UFMG, UFRGS e UNICAMP. O Educom contemplou diferentes abordagens pedagógicas, como desenvolvimento de softwares educativos e possibilidades do uso do computador como ferramenta para a resolução de problemas.

Todos os centros-piloto do Educom, apesar dos perfis distintos, atuavam para a promoção de mudanças na abordagem educacional; o grande desafio todavia era “transformar uma educação centrada no ensino, na transmissão da informação, para uma educação em que o aluno pudesse realizar atividades através do computador e, assim, aprender” (VALENTE e ALMEIDA, 1997, p. 7).

Como se pode observar, a implementação desse programa foi descentralizada, visto que as decisões e as propostas eram feitas pela comunidade de pesquisadores da área, enquanto a função do MEC restringia-se ao acompanhamento, viabilização e implementação do que se decidia. Em decorrência, os próprios pesquisadores passaram a reivindicar do MEC a definição de uma política nacional a ser seguida.

É criada, então, em 1986, o Comitê Assessor de Informática na Educação de 1º e 2º graus (CAIE / SEPS) para assessorar as Secretarias de Educação sobre a utilização de computadores no ensino. O CAIE elaborou o Programa de Ação Imediata que, por sua vez, elaborou projetos específicos, com objetivos que compreendiam desde o levantamento das necessidades do sistema educacional brasileiro em informática educativa até projetos que previam a instalação de computadores em algumas escolas da rede pública (OLIVEIRA, 1997, p. 43).

Destacamos, aqui, os dois principais projetos – FORMAR e CIED – implementados em 1987 e 1988, respectivamente. O primeiro destinado à formação de professores e técnicos da rede pública (municipal e estadual) de ensino de todo o território brasileiro, em nível de especialização em Informática na Educação. O segundo – Centros de Informática na Educação – se propunha a levar os computadores às escolas da rede pública.

Para viabilizar o projeto FORMAR, foi realizado o primeiro Curso de Informática na Educação, em 1987, no centro piloto da UNICAMP e ministrado por pesquisadores, principalmente os do Educom.

Os profissionais capacitados pelo FORMAR dariam suporte aos Centros de Informática Educativa e seriam agentes dinamizadores da informática educativa em suas escolas. As diretrizes desse curso apontavam para uma formação crítica do educador, de modo a ser capaz de avaliar as contribuições do computador no processo educativo. Entretanto, o FORMAR ficou marcado, segundo Valente (1997), por algumas dificuldades, não havendo proporcionado, ainda, uma sólida formação dos professores para que pudessem promover mudanças na abordagem pedagógica de suas escolas, eixo do programa brasileiro.

Quanto ao CIED, sua criação resultou em novo canal de intervenção para o uso de computadores nas escolas, uma vez que deixa de concentrar-se apenas no âmbito do MEC e passa a contar com a participação das Secretarias Municipais e Estaduais de Educação.

Como a Política Nacional de Informática Educativa ainda não estava inteiramente definida, foi realizada, em 1987, a Jornada de Trabalhos de Informática na Educação que contribuiu para a criação de um modelo de informatização educativa para o governo brasileiro (OLIVEIRA, 1997). A partir das recomendações que surgiram nessa jornada, foi elaborado em 1989 o PRONINFE (Programa Nacional de Informática Educativa), que teve como prioridade “a capacitação contínua e permanente de professores, técnicos e pesquisadores no domínio da tecnologia em Informática Educativa, em todos os níveis e modalidades de ensino” (BRASIL apud OLIVEIRA, 1997, p. 49).

A fim de realizar esse atendimento, várias modalidades de Centros de Informática na Educação foram criadas, nos diferentes níveis: Centros de Informática na Educação Superior (CIES), Centros de Informática na Educação de 1º e 2º Graus e Especial (CIED) assim como Centros de Informática na Educação Técnica (CIET).

Passa então a ser definido o modelo de introdução dos computadores nas instituições públicas de ensino. Após dez anos, ou seja, somente em 1991 a Informática Educativa conquista seu espaço definido na lei que regula a Política de Informática no Brasil.

Ainda assim, o balanço que se faz é que as ações tomadas pelo governo federal na área de informática educativa até aqui ainda não foram suficientes e, por que não dizer eficientes, para atender à proposta principal de mudança pedagógica contida no programa brasileiro. Para Valente e Almeida (1997), o problema maior reside na formação do professor, pois

não se trata de criar condições para o professor dominar o computador ou o software, mas sim auxiliá-lo a desenvolver conhecimento sobre o próprio conteúdo e sobre como o computador pode ser integrado no desenvolvimento desse conteúdo (p. 11).

A “pedra no sapato” continua sendo a preparação eficiente do corpo docente, tanto relacionada ao domínio computacional quanto pedagógico, de modo que este recurso seja concebido como um meio auxiliar no processo de mudanças na prática de ensino.

Os anos 90 representam um boom no campo da informática educativa. Surgem escolas que experimentam o uso do computador em projetos educacionais, colaborando assim com as instituições de ensino na utilização da informática como ferramenta pedagógica. Nesse contexto, há o Nied da UNICAMP, a Escola do Futuro da USP, o projeto Jovem Cidadão da UNESP de Presidente Prudente, além de outras iniciativas de empresas particulares (PETITTO, 2003). A partir da criação do ProInfo, em 1997, diversos são os projetos de informática educativa que vêm sendo realizados nas escolas da rede pública e nos colégios de aplicação de algumas universidades.

BATISTA, D. P. Interdisciplinaridade: o discurso e a prática pedagógica em cursos de capacitação tecnológica docente. 2005. (Dissertação de Mestrado em Educação), Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, 2005.


[1] No primeiro seminário estavam presentes pessoas ligadas diretamente ao processo educacional. Já no segundo, para garantir a interdisciplinaridade sugerida no primeiro evento, participaram pesquisadores da área de educação, psicologia e informática. Ver: Ramon de OLIVEIRA, Informática Educativa, p. 30.

2 comentários:

Katia Regina, Ana Paula, Davis, Cristiane e Cristina disse...

Galera, o texto da Deniele é super !!!, Como ela também!!!!
Ana

Anônimo disse...

Gostaria de agradecer a Deniele pela sua mediação em todas as disciplinas que foram orientadas por ela. Esteve a todo tempo antenada em nossas idéias e sempre comentando nossos escritos, de forma reflexiva, enfatizando os pontos de primordial atenção no desenvolvimento da proposta lançada.
Gostaria também de agradecer toda a dedicação do Leonardo, nosso orientador da Monografia, que tem nos ajudado a aprofundar nossos escritos para que possamos mostrar caminhos que maximizem a utilização do computador na UE em foco como ferramenta de transformação pedagógica no processo ensino-aprendizagem.
Cristina